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Toru Takemitsu viveu a experiência da guerra muito jovem, sendo chamado ao serviço militar com apenas 14 anos em plena II Guerra Mundial. As marcas que lhe ficaram levaram -no a um afastamento voluntário da cultura japonesa, e com a posterior ocupação do país pelos Estados Unidos pôde finalmente aprofundar o conhecimento da música clássica ocidental, até então banida no Japão. Autodidacta, considerava Debussy o seu primeiro professor, de quem absorvia as noções de cor, luz e sombras, e cultivava mestres franceses como Ravel e Messiaen. Na sua primeira fase, Takemitsu renegava conscientemente a sua origem, mas apoiava -se paradoxalmente em compositores que tantas vezes se inspiravam nas sonoridades e tradições do Oriente. Mais tarde, já no início dos anos 60, sofreu a influência de John Cage e começou a integrar na sua música elementos aleatórios, ainda que sujeitos a alguma espécie de controlo. Ao contactar com as concepções que Cage resgatava da filosofia budista, aplicando os ensinamentos zen à composição, em particular, e à visão do mundo, Takemitsu começou a valorizar e a sentir -se integrado nas suas próprias origens, apercebendo -se de que pouco sentido fazia renegar a tradição que desde sempre o rodeara.
Assim, nas décadas seguintes a obra de Toru Takemitsu libertou-se gradualmente de constrangimentos geográficos e podia revelar caracteres ocidentais ou orientais na sua forma, instrumentação, linguagem ou inspiração. Nos anos setenta, por exemplo, escreve uma das suas obras mais significativas, In an Autumn Garden, e destina-a ao Gagaku, a orquestra de instrumentos típicos de sopro e percussão oriunda da corte japonesa.
A ideia do “jardim” é particularmente japonesa e atravessa a obra de Takemitsu, que o caracteriza enquanto “composição de vários elementos diferentes e detalhes sofisticados que convergem formando um todo harmonioso”. “Ouvir a minha música pode ser comparado à caminhada por entre um jardim, experimentando as mudanças na luz, padrões e texturas.” É o que acontece em Spirit Garden, uma obra que pelo seu brilho e cores orquestrais nos devolve uma ideia impressionista remetendo para as influências iniciais de Takemitsu, sem deixar a linguagem modernista que o compositor sempre cultivou mas com um pendor melódico expressivo que a situa claramente no seu tempo, as últimas décadas do século XX.