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1. Moderato
2. Andante Lento
3. Giocoso
4./5. Prelúdio – Hard Rock
Construída em torno da forma sonata tradicional, esta composição em cinco andamentos adorna a tela sonora com pinceladas, texturas e matizes das mais diversas escolas estéticas. A alusão ao universo das artes visuais, patente no título, advém do facto de a grande inspiração para os diversos momentos musicais ter tido a sua génese na contemplação do trabalho de grandes artistas plásticos.
No primeiro andamento, onde a simetria geométrica e ambígua dos intervalos de quarta contrasta com o rigor e a previsibilidade das tríades funcionais, existe uma analogia entre o cubismo de Georges Braque e a precisão figurativa de Eugène Delacroix, respectivamente. Por sua vez, o ambiente modal indistinto e a indefinição da pulsação rítmica no segundo andamento revelam um carácter claramente impressionista. Para o terceiro andamento, que numa sonata tradicional é tipicamente uma dança, tentei inspirar-me numa das bailarinas esculpidas por Edgar Degas; surpreendentemente deparei-me com um resultado final que, no meu imaginário, se aproxima muito mais das personagens de Fernando Botero a dançar em pontas. Os dois andamentos finais, complementares entre si, representam a monocromia de Mark Rothko expressa pela lentidão quasi-estática do início e as texturas voláteis de Jackson Pollock. O clarinete em jeito de tema e variações vai decorando o tema final no “driping style” que caracterizou este artista. A unidade macroestrutural da obra é assegurada pela escolha dos centros tonais e pela recorrência de alguns motivos em vários andamentos.
Apesar da descrição do processo criativo de Blackwood Sonic Sculptures, o meu convite para cada ouvinte é que se deixe sugestionar pela música de modo a ser transportado para os universos visuais que mais o inspiram, concebendo a partir da audição desta obra a sua própria experiência transcendental.
Paulo Perfeito