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Concordanza é uma obra que marca o afastamento de Gubaidulina dos modelos de inspiração serial, patentes na cantata Noite em Mênfis. Escrita para conjunto de câmara em 1971, a obra foi estreada no mesmo ano no Festival Internacional de Música da Primavera, realizado em Praga. Como em muitas obras da compositora, há uma relação forte entre misticismo religioso e técnicas musicais. Assim, grupos de parâmetros expressivos que incluem a articulação, o método de produção sonora, o ritmo e a textura são contrapostos numa macro-forma. A relação entre grupos de função dissonante e consonante torna-se então a base para o desenrolar de Concordanza. A obra começa com melodias sinuosas que percorrem o espectro sonoro, dando lugar a um episódio mais estático em que a textura se vai adensando e tornando mais cinética. Um solo de clarinete, ao qual se juntam o oboé, a flauta, a trompa e a percussão, antecede uma secção em que as melodias angulares das cordas dominam. A escrita quase pontilhística e a sucessão de contrastes de dinâmicas e registos reforçam a expressividade de uma obra construída a partir de uma sucessão de momentos contrastantes. Assim, Concordanza alterna secções estáticas, em que a melodia tem primazia, com momentos mais movimentados, por vezes baseados em ostinati. Paralelamente, Gubaidulina compõe momentos em que os instrumentistas recorrem a técnicas menos ortodoxas para a produção sonora.
João Silva, 2016