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  • Na Primavera de 2004, os compositores Michael Gordon, David Lang e Julia Wolfe decidiram criar uma peça intitulada Shelter (abrigo). Pretendiam um tema grandioso, que pudesse ser abordado a partir de várias direcções e acomodar múltiplos pontos de vista. Idealizaram os músicos inseridos num universo volúvel criado pela imagística fluida e tênsil do Ridge Theater. E pediram-me para escrever o texto.

    É difícil não nos apaixonarmos pela linguagem dos edifícios. Cravos, frisos, vigas. Samblagem. ‘Footprint’. ‘Truth windows’ . Tudo serve de metáfora. Fiquei fascinada pelos materiais, pela fisicalidade das próprias construções, como por exemplo a casa de 760 metros quadrados em American Home, e aquelas que se constroem em qualquer parte do mundo com materiais nativos como estrume, palha, bambu, lama, juncos, colmo ou pedra. Before I Enter imagina pessoas de várias culturas, países e climas entrando nas suas casas. Is the Wind contém três preocupações tradicionais na escolha de um local para um abrigo.

    Para além das estruturas físicas que construímos, pensámos também na ideia de abrigo como um estado emocional. The Boy Sleeps é um excerto de um poema mais longo sobre uma criança enfaixada pela sua mãe e dormindo de encontro ao sobe e desce da respiração desta. I Want to Live expressa um compromisso, um desejo, um medo – ora inocente ora feroz – que expõe a fragilidade da relação entre duas pessoas.

    O tema de Porch é a longevidade de um alpendre – como o popular espaço exterior comunitário que outrora nos ligava aos vizinhos deu lugar a um interior mais isolador, refrescado por ar condicionado e iluminado pela luz azul da televisão. Finalmente, What We Build é inspirado nas palavras do Rabi David Freelund, que nos lembra que para além das estruturas que construímos, em última análise precárias e ilusórias, o nosso abrigo mais profundo poderá estar no poder misterioso que nos permite aguentar até a tempestade mais perniciosa.

    Comparadas com a nossa anterior colaboração, Lost Objects, estas peças são mais concentradas, mais focadas e, no fundo, talvez mais aterradoras. Shelter consiste em sete secções musicais, ora delicadas, ora triunfantes ou apocalípticas. (…) Procurámos criar um universo que evoca o poder e a ameaça da natureza, a promessa de expansão de limites contida na estrutura de uma nova casa, a pura beleza estética de plantas de casas, a doce arquitectura do som e a vulnerabilidade apreensiva que está presente até na segurança do nosso sono.

    Deborah Artman, 2005

    (adaptação da nota de programa para a estreia americana de Shelter na Brooklyn Academy of Music, em Novembro de 2005)

     

     

    Na música clássica, não é muito habitual existirem colaborações entre compositores, algo que sucedia com mais naturalidade entre os pintores renascentistas flamengos – se um pintor fazia anjos mais perfeitos e o do atelier vizinho pintava flores melhores, era normal surgir uma colaboração. No meu caso, contudo, as solicitações de trabalhos conjuntos chegam frequentemente de terceiras entidades, e foi graças à encomenda do ensemble de Colónia musikFabrik e do Next Wave Festival da Brooklyn Academy of Music que Julia Wolfe, David Lang e eu próprio nos vimos a embarcar na nossa terceira peça colaborativa, em 2004.

    As outras duas peças conjuntas assinadas por Gordon/Lang/Wolfe – Lost Objects e The Carbon Copy Building – são constituídas por numerosos andamentos curtos. Com Shelter quisemos estender-nos um pouco mais, e estruturámos a peça em sete andamentos mais longos. Mais uma vez trabalhámos com Deborah Artman, que tinha escrito o libreto para Lost Objects. Tal como esta obra, Shelter é uma oratória encenada, mas com um efectivo mais pequeno: três sopranos e um ensemble alargado. Juntámo-nos também novamente ao cineasta Bill Morrison, que colaborou em The Carbon Copy Building.

    Michael Gordon, 2005


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