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1. Valsa
2. Nocturno
3. Mazurka
4. Romance
5. Galop
Em 1941, Khatchaturian – compositor arménio e uma das mais importantes figuras do panorama musical no tempo da URSS – escreve “Música de fundo para Masquerade”, para acompanhar uma produção da peça teatral do mesmo nome escrita em 1835 por Mikhail Lermontov. Estruturada em 4 actos, a peça evidencia o espírito nobre e rebelde do protagonista – Eugene Arbenin –, nascido na alta sociedade de São Petersburgo, que procura (em vão) conquistar independência e liberdade. O título (“Masquerade”) alude ao baile de máscaras inicial, que despoleta toda a acção.
A suite sinfónica que hoje ouvimos data de 1944. Contém 5 andamentos: os de ordem ímpar são danças, sempre com ritmos marcados e orquestração muito rica e densa; os de ordem par são números mais lentos, de sonoridades mais rarefeitas. Em suma, há uma alternância sistemática entre estes dois tipos de andamentos. Em ter-mos globais, este é um excelente exemplo da estética neo-romântica que caracteriza o compositor, marcada por uma expressão dramática e intensa. Abaixo apresenta-se uma breve descrição de cada andamento.
1. Valsa – É uma forma ternária (aba). O 1º tema (a) é de carácter trágico e sonoridades escuras; o 2º tema (b) é mais aberto e alegre, mantendo sempre o fundo rítmico da valsa. A orquestração é extremamente densa (está quase sempre toda a orquestra a tocar).
2. Nocturno – Após uma introdução com trompas e cordas graves em pizzicato (enorme contraste face ao permanente volume sonoro da valsa), o protagonista é agora o violino solo, cuja melodia é progressivamente elaborada. Há depois um momento central um pouco menos denso, embora sempre expressivo. Regressa-se depois ao início, que reaparece numa versão condensada.
3. Mazurka – Regresso parcial ao carácter do primeiro andamento, com orquestração densa e ritmos de dança. A forma também é simétrica, mas mais complexa, em esquema abcba (o que geralmente se designa por forma em arco). O “a” é caracterizado por uma orquestração massiva, em que se destacam melodicamente violinos e flautas; o “b” é marcado por um motivo rápido e descendente nas flautas e clarinetes, numa textura mais suave; o “c” tem um carácter triunfal, incluindo ecos do início de “b”. Depois do “c”, voltamos então atrás (b e, finalmente, a).
4. Romance – Voltamos a um carácter mais lento e expressivo, com orquestração mais discreta, sem percussões. Começa com um tema nos violinos, de carácter escuro. Há depois uma parte central, inicialmente mais luminosa, que se torna cada vez mais escura, à medida que ouvimos solos do clarinete, oboé e trompete. Reaparece depois o tema inicial dos violinos, com orquestração mais espessa e sentimento mais intenso.
5. Galop – Voltamos à dança, agora com um carácter frenético e positivo (quase oposto ao da valsa inicial). Tem também forma ternária (aba). O “a” dá destaque aos sopros agudos, cujas picantes Dissonâncias dão um aspecto humorístico, quase burlesco. O “b” é um pouco menos frenético (embora, ainda assim, muito movimentado), alternando uma fanfarra nos metais e uma melodia mais lírica, quase triste, nas cordas. Entre o “b” e o reaparecimento do “a”, há um pequeno parêntesis: uma cadência de clarinete, a que se segue um breve solo da flauta (com um suavíssimo fundo de acompanhamento).
Daniel Moreira, 2012