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O norte‐americano John Cage foi um dos artistas mais influentes do século passado. Entre as suas inovações mais marcantes contam‐se a utilização de objectos do quotidiano como instrumentos, o piano preparado, vários desenvolvimentos nos domínios da electrónica e da nota‐ ção gráfica, o chamado “happening” multimédia e a peça silenciosa, possivelmente a sua mais radical e marcante criação. Mas Cage também introduziu na música o aspecto aleatório como forma de remover o significado expressivo e concentrar a atenção do ouvinte nas qualidades inatas dos próprios sons, afastando‐se, assim, do conceito de dramaturgia musical.
Foi a escrever música para dança, a partir de finais da década de 1930, que John Cage encontrou a resposta para a ‘sentença’ que o seu influente e genial professor Arnold Schönberg lhe havia vaticinado: “Nunca serás capaz de escrever música!” O pai do dodecafonismo proferiu estas palavras num contexto muito específico. É que, para ele, a harmonia tinha implicações estruturais na escrita musical e sem o seu domínio não seria possível escrever música. Mas Cage procurava um meio de criar algo intrinsecamente novo e não parecia interessado no domínio da harmonia como forma de perpetuar uma tradição musical.
Em determinado momento, decidiu concentrar‐se no ritmo como pilar estrutural das suas obras, criando uma espécie de fórmula. Chamou‐lhes estruturas rítmicas micro-macrocósmicas, as quais tinham por base uma proporção matemática entre o todo e as partes. Desta forma, a música podia ser criada com todo o tipo de sons, incluindo o que consideramos ruído, e silêncio, desde que a estrutura rítmica fosse coerente. A harmonia, ao contrário do que Schönberg afirmara, não tinha qualquer papel determinante aqui.
A colocação em prática deste novo conceito alcançou os primeiros resultados no contexto da música para dança. Foi a trabalhar para o coreógrafo Bonnie Bird (1914‐1995), no Cornish College of the Arts, nos arredores de Seattle, que John Cage alcançou os seus primeiros êxitos enquanto músico. E foi também nesta escola que se deparou com uma produção de dança moderna extremamente complicada pelas dimensões reduzidas da sala e que viria a condicionar positivamente o seu processo criativo. Falamos do baildado Bacchanale, de Syvilla Fort (1917‐1975), no qual Cage pretendia incluir percussão africana e uma alargada bateria de instrumentos. Na impossibilidade de os acomodar em palco, ‘inventou’ o piano preparado, colocando objectos entre as cordas que alteravam o som. Criou, desta forma, um novo instrumento capaz de reproduzir novos timbres no universo da percussão, o qual se tornou numa fonte inesgotável de novas composições e fama. Em boa verdade, já outros compositores tinham colocado objectos dentro do piano em contacto directo com as cordas, de forma a produzir timbres diferentes, mas nunca ninguém o havia feito da mesma forma e com a consistência de Cage.
Ainda em Seattle, John Cage conheceu algumas das pessoas mais importantes para a sua carreira e vida pessoal, nomeadamente o coreógrafo Merce Cunningham (1919‐2009) que, mais tarde, se tornaria o seu parceiro sentimental e colaborador artístico mais importante.
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