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A música de Alexander Glazunov mostra a sua opção por um equilíbrio entre o “ocidentalismo” de Tchaikovski e o estilo dos compositores nacionalistas, mais propenso a idiossincrasias e sonoridades exóticas. Em tempos de opções tantas vezes radicalizadas, a sua posição foi vista como antiquada, valendo-lhe um segundo plano relativamente aos seus compatriotas mais ousados.
Foi aos 27 anos que Alexander Glazunov compôs A Abertura Carnaval, op. 45, para grande orquestra. Dedicada a Herman Laroche (opositor do nacionalismo russo), a peça tem uma estrutura essencialmente clássica, com os seus dois temas contrastantes (o primeiro jovial e impetuoso, em Fá maior, e o segundo mais gentil e lírico, exposto pelos sopros em Dó maior). Desde logo, percebe-se o compromisso estilístico, com o colorido exuberante que se encontra por exemplo na obra de Rimski-Korsakoff, mas também com o lirismo transparente de Tchaikovski, com melodias claras e sóbrias. A esta exposição, segue-se uma secção de desenvolvimento que contém páginas de maior introspecção em que podemos apreciar melhor o aspecto contrapontístico, mais convencional, de Glazunov, antes de voltar a uma escrita mais cheia. A revisitação do material temático (e das sonoridades cheias do início) encerram a peça em clima festivo.
Pedro Almeida, 2016