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A opereta Candide de Leonard Bernstein foi estreada na Broadway em 1956. Baseada numa obra de Voltaire com o mesmo título, o seu libreto foi escrito originalmente por Lillian Hellman, mas desde 1974 passou a ser interpretada com um novo libreto de Hugh Wheeler, um sinal das variadas versões que teve ao longo de décadas. Um dos excertos que mais rapidamente alcançou o sucesso foi a Abertura, frequentemente interpretada como uma peça instrumental única. A história navega entre o sarcástico e o absurdo, relatando as aventuras de Candide, um jovem que acredita que tudo acontece “pelo melhor, neste que é o melhor de todos os mundos possíveis”. O sábio que o inspira com os seus ensinamentos, a si e vários alunos, é Pangloss. À pergunta “E a guerra?”, o mestre responde: “Embora pareça uma maldição sangrenta, é pelo contrário uma bênção. Quando ressoam os canhões, ricos e pobres estão unidos pelo perigo.” Com esta filosofia, Candide vive em paz sem lamentar as desgraças que lhe vão acontecendo: é expulso da sua terra, Westphalia; é capturado e obrigado a combater no exército que massacra todos aqueles que conhece (mas que vão regressando à vida mais tarde); vai parar a Lisboa e é condenado num autode-fé, onde Pangloss morre pela segunda vez, mas Candide é apenas espancado. Acaba por descobrir o Eldorado na América do Sul, um mundo tão perfeito que até “se presta culto apenas a um deus, e não a três como na Europa”, mas que não lhe parece especialmente bom sem a sua amada. Finalmente, acaba por mudar a sua filosofia de vida. Afinal, o mundo não traz a felicidade naturalmente, é preciso aprender a fazer o pão de cada dia, a construir aquilo de que se necessita.
Fernando Pires de Lima