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Gioachino Rossini distinguiu-se na primeira metade do século XIX enquanto o compositor que maior prestígio e popularidade alcançou, tendo fornecido um contributo imenso para o repertório operático italiano. As suas primeiras produções revelam a ascendência de figuras aclamadas como Cimarosa, Paer e Paisiello – para além dos modelos de Haydn e Mozart –, todo um conjunto de referências que refundiu num estilo próprio que exerceria uma influência preponderante nas décadas subsequentes. No âmbito da função de director dos teatros reais de Nápoles, assumida em 1814, Rossini devia fornecer duas óperas por ano para essa cidade, o que originou um conjunto notável de opere serie. Em 1822, dedicou-se àquela que seria a sua última opera seria italiana: Semiramide, melodramma tragico em dois actos, com libreto de Gaetano Rossi baseado na tragédia Sémiramis (1748) de Voltaire, que por sua vez se inspirou na lenda babilónica. Estreada com sucesso em 1823, no Teatro La Fenice de Veneza, esta obra constitui um exemplo modelar dos processos estabelecidos na época na ópera italiana. A abertura é um exemplo de como a sua escrita orquestral atingiu um novo nível de sofisticação. Numa primeira secção, trompas e madeiras apresentam uma ideia lírica, seguindo-se um Allegro em Ré maior, com um 1º tema marcado pelas notas repetidas, e um 2º tema em Lá maior, um pouco mais marcial. O brilhantismo do final não faz prever a tragédia sangrenta que advirá.
Luís Miguel Santos, 2015