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Ardeur noire
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  • Ardeur noire é uma obracomposta por Heinz Holliger para a edição de 2008 do Festival de Zurique. Esse festival de Verão tem a duração de um mês e apresenta concertos, óperas, exposições, teatro, dança e debates. Na sua organização encontram-se alguns dos principais promotores culturais suíços, que encomendam obras aos artistas de modo a serem estreadas nesse evento. A criação de diversos festivais ao longo da segunda metade do século XX fomentou a realização de encomendas a compositores ligados a estéticas vanguardistas. Dessa forma, a valorização do novo foi traduzida na elaboração de um número significativo de obras musicais, financiadas e estreadas em festivais. A carreira de Heinz Holliger como oboísta e compositor foi desenvolvida nesse contexto. As suas reconhecidas capacidades fizeram com que proeminentes compositores como Karlheinz Stockhausen, Luciano Berio ou Krzysztof Penderecki lhe escrevessem obras que vieram a ser emblemáticas do repertório contemporâneo para oboé. Paralelamente, Holliger dedicou-se à composição. Ardeur noire consiste numa elaboração de Les soirs illuminés par l’ardeur du charbon, uma obra para piano de Claude Debussy. A obra foi estreada a 12 de Julho de 2008, na Tonhalle de Zurique. Os seus intérpretes foram a Orquestra de Zurique e o Coro de Câmara da Suíça, sob direcção do compositor.

    Les soirs illuminés par l’ardeur du charbon foi escrita para piano solo em 1917, no último ano da vida de Debussy, quando este se encontrava já muito debilitado pela doença que o veio a vitimar. O seu título remete para um verso do poema de Charles Baudelaire Le Balcon, que Debussy tinha musicado em 1888 e incluído nos Cinq poèmes de Baudelaire. Ardeur noire baseia-se num motivo musical da obra para piano solo e funciona como um comentário musical à mesma e ao estilo compositivo de Debussy. A peça inicia-se com um motivo estático, característico da produção de Debussy, e vai-se desenrolando através da inclusão de arabescos melódicos. Essas melodias sinuosas fazem parte de uma trama em que várias camadas se vão sobrepondo gradualmente. Essa sobreposição alarga o espectro sonoro da orquestra em termos de frequência e de amplitude até ao clímax e posterior desaparecimento.


    João Silva

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