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Wolfgang Rihm é um dos mais destacados compositores alemães da actualidade. Apesar de ter frequentado os cursos ministrados por Stockhausen em Colónia na juventude, o seu estilo afastou-se dos modelos associados à corrente liderada por esse compositor e por Boulez. A adopção de um estilo plástico, em que se fundem as influências de modernistas como Mahler e a Segunda Escola de Viena com novas tendências expressivas é uma característica central no percurso de Rihm, que cedo começou a receber encomendas de prestigiados promotores culturais. Essa abordagem marca uma viragem em relação aos modelos pós-seriais vigentes na Europa e nas Américas após a Segunda Guerra Mundial. Contudo, a simultaneidade de diversas correntes estéticas é um dado central para compreender esse período. Inclusivamente, compositores como Stockhausen recorreram e codificaram cânones estéticos distintos e, por vezes, diametralmente opostos, ao longo da sua carreira.
A partir da segunda metade do século XX, diversos compositores concentraram-se na escrita de séries de obras relacionadas entre si. Os melhores exemplos desta tendência são as Sequenze, de Luciano Berio, ou as Chains, de Witold Lutosławski. O conjunto das oito Chiffre enquadra-se nessa tendência. Rihm compô-lasentre 1983 e 1988. Essas obras foram destinadas a conjuntos instrumentais de composição variada, encarnando as necessidades expressivas de cada obra. Um ponto em comum nestas obras é o recurso a complexos sonoros verticais estáticos como geradores de material musical. Assim, esses elementos são divididos e repetidos, permitindo ao ouvinte compreender o processo de composição da obra. O recurso a uma métrica constante enfatiza essa subtracção e adição de elementos musicais, definidos pela articulação e pelo timbre. Paralelamente, o piano ocupa um lugar de destaque nestas obras, exceptuando em Chiffre VI.
A percussividade, reforçada pela escrita pianística, e a constância métrica são elementos fulcrais em Chiffre V, obra composta em 1984 e estreada em Paris a 3 de Dezembro do mesmo ano pelo Ensemble intercontemporain, sob a direcção de Gary Bertini.
João Silva