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1. Andante
2. Vivace
3. Largo
4. Allegro
Conhecem-se quatro concertos para fagote de Graupner, um dos mais famosos e prolíficos compositores alemães da geração de Bach e Telemann, compostos entre 1735 e ca.1744. Para além das 1.418 cantatas sacras, das 24 cantatas profanas, e de 8 obras dramáticas, Graupner deixou-nos, no âmbito da música instrumental, 113 sinfonias, 86 ouvertures e cerca de 44 concertos para um, dois ou três solistas, que exploram ocasionalmente as sonoridades menos usuais de instrumentos como a viola d’amore, a flauta d’amore e o chalumeaux. Activo em Leipzig, Hamburgo e Darmstadt, onde desenvolveu a maior parte da sua carreira, Graupner foi o concorrente favorito ao cargo de Mestre de Capela de São Tomé em Leipzig em 1722/23, posto esse que acabou por ser atribuído a J. S. Bach. O seu estilo combina alguns traços conservadores com outros mais galantes e que anunciam por vezes o Classicismo. A sua obra exemplifica também a combinação dos vários gostos nacionais da época – italiano, francês e alemão – mas de uma forma algo idiossincrática e que resulta num estilo mais peculiar e menos cosmopolita do que o de Telemann.
Como na maior parte das obras concertantes de Graupner, a forma do concerto hoje apresentado não é facilmente caracterizável (ao contrário, por exemplo, dos concertos venezianos) provocando a sensação de alguma assimetria e imprevisibilidade. Possui quatro andamentos, na sucessão lento-rápido-lento-rápido. A parte solística é muito expressiva e requintada no andamento inicial, abundando em apogiaturas e outros ornamentos. No segundo andamento a escrita nunca é verdadeiramente virtuosa, e o resultado final é bastante semelhante a uma obra de câmara, em que o fagote solo alterna motivos curtos e incisivos com o acompanhamento, ou executa uma linha de contínuo elaborada e ornamentada sob as partes superiores. A variedade quase incessante de breves motivos melódicos e efeitos contrastantes – tais como imprevistas alterações dinâmicas e sofisticadas articulações – conduzem a uma construção algo rapsódica, a que só a repetição de cada uma das partes do andamento consegue conferir coerência. Os dois últimos andamentos são muito curtos: no terceiro o solista limita-se a executar simples figuras em arpejo, mas o efeito geral é bastante íntimo e quase misterioso; o último é um breve e elegante tempo de Minueto, em que o fagote nunca se afasta muito da linha do baixo, que adorna com saltos, notas repetidas e breves ornamentos, numa técnica já encontrada no segundo andamento.
Fernando Miguel Jalôto, 2016