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  • 1. Allegramente

    2. Adagio assai

    3. Presto

     

    O Concerto para piano e orquestra em Sol maior, de Maurice Ravel, constitui uma das obras do repertório pianístico virtuoso, interpretado e gravado por um considerável número de pianistas de referência. A escrita pianística de Ravel, por vezes de elevada dificuldade de execução, transborda o simples tecnicismo aparente para colocar um conjunto de recursos expressivos ao serviço das ideias musicais do compositor. De peças musicais mais pequenas, como Jeux d’eau, a obras de maior magnitude como Gaspard de la nuit ou o Concerto para piano em Sol maior, o virtuosismo é assumido como um meio para alcançar nuances, texturas, ideias musicais com um sentido muito próprio no discurso raveliano. Talvez por isso Ravel tenha referido, a propósito do concerto em epígrafe, que 75% do trabalho de escrever música é uma actividade puramente intelectual. E percebe-se tal labor no modo como, para o compositor, uma ideia musical não é um fim em si, mas o início de um longo processo de desenvolvimento e maturação musical.

    Ravel confessou que a ideia musical principal do tema de abertura surgiu numa viagem de comboio entre Oxford e Londres mas que, desde esse momento, o processo tomou um rumo profundo de trabalho intelectual. Entre 1929 e 1931, empreendeu a composição deste concerto bastante influenciado pela viagem que realizara em 1928 aos Estados Unidos da América, onde contactou também com a emergente cena jazz. Para o compositor, os sons vibrantes do jazz, as harmonias e os ritmos sincopados deviam ser mais utilizadas pelos compositores de música erudita do seu tempo, pelo alargado leque criativo que possibilitavam.

    O Concerto para piano em Sol maior foi terminado em 1931, e Ravel contava apresentá-lo ao público em Março desse mesmo ano. Impossibilitado de o fazer por motivos de saúde e também logísticos, relacionados com a finalização de outros trabalhos, acabou por entregá-lo à pianista francesa Marguerite Long, que o preparou em três meses. A 14 de Janeiro de 1932, sob a batuta do próprio compositor, que dirigiu a Orchestre Lamoureux na Salle Pleyel em Paris, a obra teve uma estreia marcada pela recepção entusiástica e calorosa do público. Em virtude do sucesso alcançado, Ravel e Long apresentaram-se em várias cidades europeias com o concerto, recebendo os mais rasgados elogios da crítica e do público.

    O Concerto para piano em Sol maior divide-se em três andamentos, procurando resgatar, segundo o próprio compositor, o carácter mais leve e brilhante de algumas obras do género compostas por Mozart e Saint-Saëns. Se as influências do jazz estão bem presentes, a concepção inicial do concerto como um Divertissment, assim como os elementos bascos e a influência dos compositores supracitados, tornam este concerto rico ao nível do uso e combinação dos materiais musicais.

    O primeiro andamento, Allegramente, é claramente influenciado pelo discurso musical do jazz, além de marcado pelo carácter brilhante e pelos aspectos formais clássicos – como os temas contrastantes e um momento claro onde se inicia a recapitulação temática. Os motivos temáticos, como noutras obras de Ravel, aparecem sobrepostos, neste caso no piccolo, com acompanhamento vivo do piano. O segundo tema, introduzido por vários motivos no clarinete, é mais próximo da linguagem jazzística, num ambiente mais calmo. A marcante cadência do piano, no final, explora os elementos mais reconhecíveis do idioma pianístico de Ravel, com um carácter vivo, vibrante e intenso, conduzindo a um final em grande êxtase.

    Em contraste, o segundo andamento, Adagio assai, abre com uma melodia nostálgica, sensível e quase contínua do piano, juntando-se posteriormente a flauta, o oboé e o clarinete. Depois de uma secção intermédia, um pouco mais viva no piano, a frase longa do início retorna agora na trompa, acompanhada pelo piano num quase contínuo. Segundo Ravel, este andamento terá sido inspirado no Larghetto do Quinteto para clarinete (K. 581) de Mozart. O último andamento, Presto, inicia de modo brilhante e vivo, com muita energia e um grau de dificuldade considerável para o piano. O jogo entre os motivos no piano e os apontamentos das madeiras e metais conduz a uma quase cavalgada musical. O andamento, que é curto em duração, termina com os mesmos quatro acordes com que começou, pontuados pela percussão, numa clara afirmação do carácter leve e brilhante que Ravel procurava explorar.

     


    Pedro Russo Moreira, 2017 

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