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1. Moderato
2. Adagio
3. Andante marcato
Gabriel Prokofiev é um compositor, produtor e DJ londrino que tem despertado muito interesse a diversos níveis, tanto musical como pessoal. Em rigor, na sua história de vida estes dois níveis cruzam-se e revelam a sua ascendência, sendo neto do compositor Sergei Prokofieff.
Durante vários anos estudou composição nas Universidades de Birmingham e York, onde se envolveu no universo da música electroacústica. Enveredou depois pela produção de hip-hop, grime e electro, com alguns trabalhos que alcançaram visibilidade nos anos 90, no Reino Unido. Neste contexto, produziu vários trabalhos que chegaram ao grande público, embora tenha preferido sempre assinar com outros nomes. Recorda que teve desde cedo um fascínio pelo papel que as “máquinas”, como refere, tinham na música, especialmente porque assistiu ao boom da música techno, dos sintetizadores e dos seus usos, e acompanhou avidamente o desenvolvimento de bandas como os Kraftwerk.
No contexto da música electroacústica venceu um prémio de residência artística na International Electroacoustic Music Competition de Bourges e iniciou a sua carreira de composição em 2003 com dois Quartetos para cordas compostos para o Quarteto Elysian. Foi também nesse ano que fundou a etiqueta fonográfica Nonclassical, uma editora com uma abordagem alternativa à música erudita, que também apresenta vários espectáculos em clubes nocturnos, assim como remixes de obras do repertório erudito, abrindo novos cenários e possibilidades à música do séc. XXI.
A sua produção musical é considerável, abrangendo desde música para bailado, várias obras orquestrais, música de câmara, música instrumental e vocal e música para cinema. Destacam-se, de entre outras, o seu Concerto para turntables e orquestra de 2006 (que será interpretado a 29 de Julho na Sala Suggia, juntamente com a estreia de um novo Concerto para turntables e orquestra encomendado pela Casa da Música), assim como a música para bailado A Midsummer Night’s Dream (2011) e o Concerto para violoncelo n.º 1 (2013).
Em 2014 compôs o Concerto para trompete, percussão e turntables, encomendado e estreado pela Orchestre de Pau Pays de Béarn sob direcção de Fayçal Karoui e com a colaboração dos solistas Marie Bédat (trompete), Chantal Aguer (percussão) e Mr Switch (turntables). Numa entrevista que concedeu à BBC, o compositor refere que é um objectivo da sua música romper algumas das barreiras que existem em integrar instrumentos como o gira-discos (turntable) na música erudita, invocando, sem problemas nem complexos, todo o ambiente da dance music ao contexto orquestral.
Quando ouvimos este concerto, percebemos essas influências em Gabriel Prokofiev, começando pelo jogo de ritmos sincopados e bem marcados que, na sua concepção, procuram também eles emular a precisão das máquinas. O compositor explica ainda que gosta de explorar a relação da máquina, ou seja do gira-discos, com os restantes instrumentos, fazendo muitas vezes referências ao pós-techno. As ideias surgem de modo criativo, sem grandes preocupações de gestão do material, procurando essencialmente essa ligação quase simbiótica ou orgânica entre os instrumentos solistas e a própria orquestra. O trompete e a percussão integram também eles elementos rítmicos do imaginário da dance music, em particular no modo como é concebida a estrutura rítmica.
A textura orquestral é gerada a fim de ecoar certas ideias musicais que o trio de solistas vai lançando, servindo, por vezes, de suporte a apontamentos mais precisos, numa obra que coloca a tónica nesse encontro entre tradição e inovação, trazendo à música erudita novas realidades de um contexto urbano e nocturno.
Pedro Russo Moreira, 2016