-
1. Adagio – Moderato –
2. Lento – Allegro molto
3. Adagio
4. Allegro, ma non troppo
O Concerto para violoncelo e orquestra em Mi menor, op. 85, de Edward Elgar é uma das obras-primas do repertório para violoncelo e é, também, a derradeira grande obra do compositor inglês. O concerto foi escrito no final da Primeira Grande Guerra, numa época bastante fecunda para Elgar, durante a qual compôs a Sonata para violino em Mi menor, op. 82 (1918), o Quarteto de cordas em Mi menor, op. 83 (1918) e o Quinteto com piano em Lá menor, op. 84 (1918-19). O falecimento da esposa, Alice, em 1920, mergulhou-o numa profunda depressão que prejudicou irreversivelmente a sua veia criativa a partir dessa data.
O tema do primeiro andamento do Concerto para violoncelo e orquestra em Mi menor foi escrito a 23 de Março de 1918, numa noite em que Edward Elgar regressou a casa depois de se ter submetido a uma intervenção cirúrgica às amígdalas. Depois de um hiato de cinco meses, voltaria a trabalhar no concerto no Verão desse ano. Doze meses mais tarde, em Agosto de 1919, a partitura completa chegava ao seu editor. A estreia da obra aconteceu a 27 de Outubro de 1919, no Queen’s Hall, em Londres, com Felix Salmond como solista e Edward Elgar a dirigir a Orquestra Sinfónica de Londres. Mas revelou-se um fiasco porque Albert Coates, o maestro titular da orquestra, decidiu utilizar o tempo de ensaio destinado ao Concerto para ensaiar o Poema do Êxtase de Scriabin e a Sinfonia n.º 2 de Borodin. O crítico Ernest Newman escreveu no The Observer: “A orquestra era frequentemente inaudível e, quando se ouvia, ouvia-se uma confusão. Ninguém parecia ter nenhuma ideia do que o compositor queria.” Elgar ficou devastado com o sucedido. Salmond imigrou para os Estados Unidos da América e não voltou a tocar o concerto em público.
Musicalmente, o Concerto para violoncelo e orquestra em Mi menoré uma obra intimista e pungente, um reflexo do enorme sofrimento e angústia que o compositor viveu durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Edward Elgar confere todo o protagonismo ao solista, atribuindo-lhe o papel de narrador de todo esse sofrimento, cabendo à orquestra assumir o papel secundário, mas nem por isso menos importante, de suportar e apoiar o protagonista. O recitativo com que o violoncelo solo inicia a obra é um grito de revolta, um brado de indignação. O belíssimo tema do Moderato no primeiro andamento, apresentado pelas violas e logo a seguir repetido pelo solista, soa como um lamento resignado e impotente. Já os rapidíssimos movimentos ascendentes e descendentes cheios de notas repetidas protagonizados pelo violoncelo solo no Allegro molto demonstram inquietação e desassossego. É no breve Adagio, porém, que Elgar expõe toda a sua tristeza e melancolia através de uma ampla linha melódica interpretada pelo timbre expressivo e vibrante do violoncelo solo. O quarto e último andamento – Allegro ma non troppo – volta a abrir com um recitativo a cargo do solista que desemboca num tema vivo e assertivo desenvolvido na forma rondó, onde parece querer despontar uma ponta de alegria. Pertíssimo do final da obra, o violoncelo solo evoca o recitativo do primeiro andamento trazendo de volta a revolta e a indignação, mas a orquestra responde abruptamente com o tema vivo e assertivo dando por concluído o concerto.
Ana Maria Liberal, 2017