-
Os anos 70 do séc. XIX foram intensos e significativos para Camille Saint-Saëns, que participou na guerra franco-prussiano, casou, e viu a confirmação e aclamação das suas óperas em Paris. Foi também nesta década que compôs algumas obras notáveis do seu repertório, destacando-se o Concerto para violoncelo e orquestra n.º 1, a Dança Macabra ou a ópera Sansão e Dalila.
A composição do poema sinfónico Dança Macabra op. 40, para orquestra, começou por ser idealizada para voz e piano, em 1872, e só depois foi adaptada para orquestra, com o acrescento de novas secções e da dedicatória a Gustave Jacquet. A parte vocal incluía o poema Égalité, Fraternité... do poeta francês Henri Cazalis (sob o pseudónimo Jean Lahor), com uma temática baseada na crença de que a Morte aparece à meia-noite do Halloween, invocando os mortos que estão nas suas campas para que dancem para ela, enquanto toca violino. A dança macabra mantém-se até ao amanhecer, altura em que os mortos regressam às suas sepulturas até ao ano seguinte. A estreia teve lugar em Paris, a 24 de Janeiro de 1875, sob a direcção de Édouard Colonne, num programa que incluía obras de Haydn, Beethoven, Joncières e Handel. De acordo com pesquisas mais recentes, foi bem recebida pelo público recolhendo poucas críticas negativas.
Ao nível musical, Saint-Saëns ilustra o cenário macabro utilizando os vários recursos orquestrais e algumas das indicações do próprio poema, iniciando com um Mouvement modéré de Valse. A meia-noite adquire uma dimensão simbólica que é anunciada pelas 12 notas repetidas consecutivamente pela harpa. A Morte entra em cena com um solo do violino marcado por uma melodia sedutora, seguindo-se depois a flauta e toda a orquestra. A orquestração ilustra depois a dança macabra dos esqueletos, com repetições quase hipnóticas, usando para isso diferentes recursos rítmicos, tímbricos e instrumentais, como por exemplo os xilofones que aludem ao som dos esqueletos. O final da obra retoma o solo de violino, representativo da morte, no qual os mortos recolhem às suas sepulturas.
Pedro Russo Moreira, 2017