Dois Prelúdios Corais, op. 122
Johannes Brahms, Hamburgo, 07 de Maio de 1833 / Viena, 03 de Abril de 1897Ferruccio Busoni, Empoli, 01 de Abril de 1866 / Berlim, 27 de Julho de 1924
[1896/1902; c.5min]
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– Herzlich thut mich verlangen I
– Herzlich thut mich verlangen II
Os Onze Prelúdios Corais, op. 122,são a última obra do catálogo de Johannes Brahms. Foram compostos em Bad Ischl, a cidade austríaca onde ele passava habitualmente os meses de Verão, logo a seguir ao falecimento da sua grande amiga Clara Schumann, a 20 de Maio de 1896. A este enorme desgosto veio juntar-se um outro: a doença. No final de Maio, Brahms sentiu-se muito cansado e em Julho perdeu peso e ficou com icterícia. O diagnóstico dos médicos apontou para uma doença do foro oncológico que o haveria de vitimar a 3 de Abril de 1897.
Os Prelúdios Corais op. 122baseiam-se numa selecção de vários corais luteranos. Como aconteceu por diversas vezes, Brahms vai buscar elementos musicais já existentes e “veste-os” com o seu génio criativo. Aqui, porém, estava a fazê-lo com a consciência de que seria, muito provavelmente, a última vez. Estava a revisitar e a homenagear a sua herança musical, ao utilizar o contraponto e as regras da escrita musical barroca. E estava, também, a fazer a sua última profissão de fé porquanto o Prelúdio Coral n.º 11, a sua derradeira composição, se baseou na frase O Welt, ich muss dich lassen (Ó Mundo, eu tenho de te deixar).
A obra foi publicada postumamente por Eusebius Mandyczewski em 1902, ano em que o pianista italiano Ferrucio Busoni (1866-1924) decide transcrever para piano seis prelúdios (os n.os 4, 5, 8, 9, 10 e 11). No presente recital serão interpretados o nono e o décimo, que são as duas versões da melodia do coral Herzlich thut mich verlangen nach einem sel’gen End (Eu desejo sinceramente um final feliz). Na primeira versão, Brahms coloca a melodia no registo agudo do órgão e transforma-a num profundo e complexo contraponto a 4 vozes. Na segunda versão, a melodia do coral passa para o registo mais grave do instrumento (a pedaleira) e sobre ela é construído um prelúdio austero e circunspecto, marcado pela presença contínua de uma cantilena em semicolcheias acompanhada por notas pedais.
A leitura musical de Ferrucio Busoni destes dois prelúdios mantém a estrutura base de Brahms mas amplifica todas as potencialidades e os recursos sonoros do piano, transformando-o numa orquestra.
Ana Maria Liberal, 2017