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1. Fantasque – Modéré
2. Très vif
3. Assez lent
4. Rythmique
5. Doux et improvisé
6. Rapide
7. Hiératique
8. Modéré jusqu’à très vif
9. Lointain - Calme
10. Mécanique et très sec
11. Scintillant
12. Lent – Puissant et âpre
As Doze Notações, compostas em 1945, ano do vigésimo aniversário do compositor, constituem a primeira obra (o “Opus 1”) de Pierre Boulez. Trata-se de um ciclo de doze aforismos, todos com doze compassos de duração, e todos assentes numa mesma série dodecafónica. Durante muitas décadas a partitura das Doze notações foi dada como perdida (ou pelo menos como “retirada do catálogo”), até que, em 1985, Pierre Boulez a reapresentou, permitindo a sua publicação. Entretanto, algumas destas Doze notações tinham sido utilizadas pelo compositor noutras obras: desde logo numa primeira orquestração feita em 1946, depois numa música de cena para uma peça radiofónica em 1957, bem como nos famosos interlúdios instrumentais da Première improvisation sur Mallarmé (Pli selon pli, nº 2), na qual as Notações 5 e 9 dão forma ao comentário “transparente glaciar de voos que não puderam ser”. Mais recentemente, as Notações 1, 2, 3, 4 (1980) e 7 (1997) foram tomadas como pontos de partida para versões orquestrais muito mais amplas e grandiosas do que a versão original para piano.
Estreadas a 12 de Fevereiro de 1946, em Paris, por Yvette Grimaud, as Doze notações revelam logo no título um programa de intenções, centrando a atenção na qualidade da “escrita”, da notação de sinais e símbolos gráficos que tanto existem para ser escutados pelos ouvidos como vistos pelos olhos. O título de um artigo de Boulez de 1981 é iluminante neste sentido: “A escrita do músico: o olhar do surdo?”. Cada peça tem doze compassos e a série dodecafónica de base é tratada em permutação circular (a primeira peça começa com a primeira nota, a segunda peça com a segunda nota, a terceira com a terceira, etc.). Dentro de cada peça a série é apresentada em estado “puro”, com uma total transparência dos processos em uso, sendo esta aliás uma das obras mais “didácticas” de Boulez. Esta aparente simplicidade e rigidez de concepção é fortemente contrariada pelo tratamento rítmico e dinâmico do material, conduzindo a uma flexibilidade musical de características mais poéticas do que analíticas. Por um lado, Boulez não evita repetições de certas notas, nem recusa a definição pontual de “figuras” quase temáticas; por outro, cria uma dramaturgia musical reconhecível na alternância de peças de carácter meditativo com peças de forte pendor rítmico, mais directas e contundentes. A presença simultânea e extremamente criativa de grande rigor de notação e de enorme liberdade poética impõe-se já nesta primeira obra de Pierre Boulez como uma das suas maiores qualidades, sem dúvida a que viria a fazer dele um dos maiores compositores europeus do século XX.
Paulo de Assis, 2012