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O Coro da Igreja de S. Tomé em Leipzig foi, como é sabido, a partir de 1723 confiado a Johann Sebastian Bach (Eisenach, 1685 – Leipzig, 1750), na qualidade de Kantor da igreja. A este cargo era associado tradicionalmente também o de Director Musicae, a quem competia supervisionar as actividades musicais, tanto civis como religiosas, da cidade. O pesado encargo associado às suas funções, cuja parte mais substancial era representada pela instrução dos meninos do coro e pelas execuções das cantatas previstas para todo o ciclo litúrgico do ano, não impediu o músico de produzir muitas outras obras nos mais diferentes géneros. Viram a luz nesse período, por exemplo, as suas duas Paixões supérstites, os 14 concertos para cravo, as composições didácticas como o Clavier-Übung, o segundo volume do Cravo Bem Temperado, a Oferenda Musical e a Arte da Fuga, ciclo monumental que o ocupou até os últimos dias de vida. Além disso, embora os seus deveres não incluíssem a composição de motetes (pois a igreja já tinha um vasto repertório recolhido no chamado Florilegium Portense), Bach também produziu neste género algumas das suas obras-primas.
De acordo com a tradição de Leipzig, os motetes eram geralmente executados como introdução ao serviço litúrgico ou em ocasiões especiais, como os funerais, e incluíam uma parte de contínuo realizada por um instrumento. É também o caso de Lobet den Herrn, alle Heiden, BWV 230, o único a 4 vozes entre os motetes de Bach que chegaram até nós, onde o louvor ao Senhor se reflecte numa escrita exuberante e jubilosa. O texto, extraído do Salmo 117, é enfatizado pela música que amplifica o seu significado já desde a frase inicial, sublinhada por arpejos que introduzem a primeira fuga da obra; ou quando, por exemplo, a palavra Ewigkeit (“Eternidade”) é ilustrada musicalmente através de uma passagem de notas longas ou, ainda, na fuga final onde a ênfase é posta sobre a palavra Aleluia que ecoa repetidamente nas diferentes vozes.
Fernando Pires de Lima, 2012