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  • 1. Ouverture [Gravement – Vîte – Gravement]

    2. Menuet I & Menuet II (alternativement)

    3. Les Turcs

    4. Les Suisses: Grave – Vîte – Grave – Vîte

    5. Les Moscovites

    6. Les Portugais: Grave – Vîte

    7. Les Boiteux & Les Coureurs (alternativement)

    Esta Ouverture das Nações possui uma “obra gémea”, a Ouverture des Nations Anciennes et Modernes. Em várias das suas cerca de 125 ouvertures orquestrais, Telemann inclui andamentos de carácter com títulos alusivos a vários povos europeus (Anglaise, Irlandaise, Polonaise, L’Espagnole, Écossaise, Sicilienne…). Estes relacionam-se sobretudo com a utilização de danças nacionais, mas nestas duas suites Telemann procura caracterizar musicalmente de forma quase caricatural algumas das nações europeias. Se na segunda obra citada o alvo do compositor são povos com os quais os seus concidadãos tinham relações próximas (alemães, suecos, dinamarqueses), na obra hoje apresentada a atenção recai sobre algumas das gentes mais exóticas e desconhecidas da Europa. O primeiro andamento ostenta desde logo grande originalidade e liberdade formal. Combina as tradicionais secções (inicial e final) lentas e majestosas características da ouverture francesa, com uma parte rápida central que rompe em absoluto com a tradição. Em vez de um andamento sério e fugado, Telemann escreve uma animada e bem-disposta Giga, que nos recorda o folclore italiano e balcânico, com ritmos ternários e binários sobrepostos de uma índole marcadamente popular. Após um contrastante par de Minuetos, em que o segundo, com a indicação de Doucement,oferece um original e marcado contraponto com o primeiro, de carácter mais formal, segue-se o excêntrico cortejo de nações.

    Primeiro chegam Os Turcos, num extrovertido andamento que evoca simultânea mas efectivamente as fanfarras guerreiras dos Janízaros e as danças circulares encantatórias dos Dervixes. Os Suíços são descritos num andamento complexo que alterna tempos lentos e rápidos, métricas e texturas diversas, evocando no seu estilo muitas das ‘danças de carácter’ dos ballets franceses do século XVII bem como as danças fantasiosas das Masques inglesas. Não sabemos se Telemann procura assim descrever a multiplicidade e variedade dos povos que constituem a Federação Helvética, ou alude a alguma instabilidade da sua personalidade, conhecida como ordeira mas simultaneamente destemida. Os Moscovitas – a Rússia era conhecida então como Grão-Ducado ou Czarado de Moscovo – é um dos andamentos mais intemporais, audazes e inclassificáveis de todo o Barroco. Um baixo ostinato de três notas, repetido incessantemente 34 vezes, com uma austera mas rítmica energia, suporta selváticas melodias dissonantes e longas notas penetrantes. Evoca assim uma civilização distante e ainda grandemente desconhecida dos Europeus: os esforços civilizacionais de Pedro, o Grande não devem ter tido grande impacto nos comerciantes russos com que os navegadores de Hamburgo se cruzavam nas suas excursões pelo Báltico, e as políticas “ocidentalizantes” de Catarina, a Grande são já posteriores à obra de Telemann. Este estava bem familiarizado com o exotismo musical dos povos eslavos (Polónia e Morávia), sendo um aberto defensor e divulgador deste estilo depois de ter trabalhado alguns anos na Silésia e em Cracóvia.

     

    Finalmente, Os Portugueses! Trata-se de uma raríssima representação musical da nossa nação na Europa Barroca. Telemann escreve não um, mais dois andamentos, ambos em Sol menor – a austeridade e a melancolia que sempre nos caracterizam? Comparando-os com os andamentos da Ouverture des Nations Anciennes et Modernes, pressupomos que Telemann procurou elaborar um duplo retrato, e cada uma das partes deveria intitular-se Les Portugais Anciens e Les Portugais Modernes. O primeiro é um andamento nobre e severo, que evoca no seu tempo ternário e os seus ritmos pontuados as danças ibéricas como a Sarabanda, a Chacona e a Folia. Representa seguramente os Portugueses seiscentistas, obcecados com os seus pergaminhos de nobreza, a pureza de sangue, o catolicismo intransigente, envergando sisudas roupas pretas ditadas pelas pragmáticas contra o luxo, quando toda a Europa se cobria já de cetins multicolores, laços, perucas e jóias. O segundo é uma Bourrée – dança descrita por Matheson como “agradável, despreocupada, descontraída, e um pouco indolente”. Esta Bourrée é indubitavelmente activa e buliçosa, mesmo algo “espertalhona”, como deveriam ser os comerciantes e marinheiros portugueses que visitavam Hamburgo; ou quiçá “espevitada” e sedutora, como as portuguesas que os visitantes estrangeiros encontravam nas ruas de Lisboa, e que juravam ser, sob os hábitos aparentemente austeros e conservadores, das mulheres mais sensuais e insinuantes da Europa. A suite encerra no mesmo tom jocoso com um par de humorísticos andamentos, em que os “Coxos” alternam com os “Corredores” numa ridícula competição.

     


    Fernando Miguel Jalôto, 2016 

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