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Musicians Wrestle Everywhere (1945) é uma obra para coro a cappella do compositor americano Elliott Carter (Nova Iorque, 1908-2012). Remonta a uma fase da carreira na qual o músico foi particularmente influenciado pelo estudo com Nadia Boulanger na École Normale de Musique de Paris (1932-35). A formação com aquela que, no âmbito do ensino musical, era considerada a mais importante referência da época, tinha-lhe permitido, para além de uma sólida preparação, o contacto directo com um vasto repertório de música antiga, desde a Ars Nova até Bach, conhecimento reforçado também pela participação nas actividades do grupo de madrigalistas organizado por Boulanger e por Henri Expert e através da direcção de um coro que o próprio Carter fundara. Mais tarde o compositor teria recordado a influência decisiva deste repertório para a definição do seu estilo pessoal assim como teria afirmado, não sem uma velada polémica, que, depois de ter sido atraído pelo vanguardas dos anos 20 e 30, tinha decidido não continuar essas experiências, em última análise já realizadas, sentindo-se “mais interessado em escrever as obras do que em demonstrar noções estéticas”.
A originalidade e vitalidade rítmica, bem como o domínio absoluto da escrita contrapontística, que são reconhecidas como umas das principais características do estilo maduro de Carter, já estão presentes neste trabalho, baseado num belíssimo poema de Emily Dickinson. O tema do texto, como em outras composições para coro de Carter, já é especificamente musical e encontra no turbulento fluxo polifónico, cheio de síncopas e contrastes dinâmicos, o seu correspondente musical. A atitude renascentista em relação ao trabalho de composição, a notável capacidade de pintar musicalmente as palavras do texto e de criar uma sumptuosa polifonia parecem encontrar a sua correspondência novecentista na escrita de Carter, tornando esta obra um ponto de referência no repertório coral do século XX.
Francesco Esposito, 2015