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1. Choral sur le thème b - a - c - h
2. Canons sur le nom de BACH
3. Fugue sur le nom de BACH
4. Passacaille
5. Fugue sur le nom de BACH
6. Polyphonie en imitations accompagnant le thème: BACH
7. Feuillet d’album
8. Deux leçons d’harmonie sur le nom de BACH
9. Divers contrepoints d’école sur des C[hants] D[onnés] avec “BACH”
10. Contrepoints plus libres à 4, 5, 6 parties, avec C[hants] D[onnés] commençant par “BACH”
11. Fugue “symétrique” sur le nom de BACH
12. Final
O eclectismo estilístico de Charles Koechlinencontra-se bem audível na Offrande Musicale sur le nom de Bach. Tal como o nome indica, é uma sucessão de andamentos inspirada na Oferenda Musical, obra instrumental de forte pendor contrapontístico composta por Bach em 1747. Paralelamente, utiliza o anagrama BACH como tema, prática à qual o próprio Bach recorreu. Contudo, é uma obra que se distancia da recuperação dos modelos barrocos empreendida pelos compositores franceses da primeira metade do século. A Offrande Musicale explora e estiliza algumas práticas barrocas, apresentando-as numa atmosfera sinfónica tardo-romântica enfatizada pela orquestração. O recurso a uma grande orquestra, órgão e piano permite um grande âmbito expressivo de forma a destacar o tema principal, que é sempre apresentado de forma clara, e as suas múltiplas utilizações. A obra foi estreada postumamente, em 1973, numa edição baseada em manuscritos do compositor. Contudo, essa versão foi revista e uma nova edição foi feita em 2005. Essa é a versão que será ouvida neste concerto, estreada no festival organizado pela Internationale Bachakademie Stuttgart em 2008. No dia 31 de Agosto desse ano, a Orquestra da Südwestrundfunk de Estugarda estreou a versão revista na Liederhalle dessa cidade, sob a direcção de Heinz Holliger.
O primeiro andamento da Offrande Musicale encontra-se em textura de coral, em que o tema principal é harmonizado verticalmente. Seguidamente, a imitação canónica ocupa um lugar dominante, em forma de cânones e fugas, num tributo claro a Bach. Este tipo de textura é interrompido por uma passacaglia, um conjunto de variações sobre um baixo ostinato com o tema BACH, no qual o recurso ao órgão enfatiza o carácter retrospectivo da obra. Em grande parte da Offrande Musicale o compositor recorre a técnicas do passado. Contudo, há momentos em que sobressaem algumas características modernistas nas elaborações contrapontísticas. A angularidade melódica e as tensões criadas pela sobreposição de camadas dissonantes são audíveis no final da Passacaille ou na Fugue sur le nom de BACH. A Feuillet d’album remete para o universo do piano romântico, sobretudo da figura de Franz Liszt, que compôs diversas obras sobre o anagrama BACH. O tema principal é apresentado na forma de acordes que revelam um tratamento harmónico sofisticado. O carácter didáctico de algumas obras de Bach encontra-se patente nas Deux leçons d’harmonie, em forma de harmonizações do tema principal. Esse pendor racionalista prossegue nos andamentos seguintes, que remetem para A Arte da Fuga e para a Oferenda musical. O contraponto imitativo é elaborado e embelezado ao estilo dos prelúdios corais, das Invenções a duas vozes e das Sinfonias para instrumento de teclado, de Bach. A atmosfera tardo-romântica retorna nos Contrepoints plus libres à 4, 5, 6 parties, em que a trama contrapontística se adensa. Na Fugue “symétrique” o tema principal encontra-se escrito de forma mais rápida, fomentando uma sobreposição de elementos dissonantes que conduzirá ao final solene e enérgico. Esse andamento apoteótico remete para o sinfonismo tardo-romântico, tirando partido das potencialidades expressivas da grande orquestra.
João Silva