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João Rebelo (1610-1661) foi tutor e, mais tarde, amigo de D. João IV. Face a outros compositores da época, João Rebelo ocupava uma posição privilegiada, já que os seus instintos musicais não se viam toldados pela austeridade e restrições de um cargo sob a alçada da Igreja. Tinha também acesso à grande biblioteca musical do rei, o que o colocava em vantagem relativamente a muitos dos seus contemporâneos ao permitir-lhe o contacto com os novos estilos barrocos que emergiam em Itália e Espanha.
O Panis Angelicus é uma peça exemplificativa da música de João Rebelo, já que combina o estilo antigo de contraponto com novas influências, reveladas em frases que frequentemente gravitam na direcção da homofonia, ou quase-homofonia. As sete vozes de Rebelo são ainda uma entidade coral única, mas os gestos texturais tornam-se mais dramáticos, deliberadamente mais fragmentados. O motete é caracterizado por uma característica figura descendente em todas as vozes, que ganha relevo com as palavras “dat panis caelicus”. Será fantasioso ouvir o pão sagrado descer dos céus nestas escalas a repicar?
Alexandra Coghlan, 2015