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1. Moderado
2. Vivo
3. Lento
4. Animado
20 anos, a três meses de completar 21, era a idade de Luís de Freitas Branco (1890-1955) quando compôs o seu único Quarteto de cordas. O manuscrito autógrafo da obra está datado de Junho-Julho de 1911, mas é altamente provável que a sua génese tenha ocorrido em Paris, cidade para onde Luís de Freitas Branco havia viajado em Abril desse ano na companhia do pai.
A única obra que Freitas Branco escreveu para dois violinos, viola de arco e violoncelo tem fortes influências de Debussy e Ravel, dois compositores que ele muito admirava. A audição da ópera Pelléas et Mélisande de Claude Debussy, em Berlim, em 1910, foi para o jovem compositor português o acontecimento que deu início a “uma vida artística nova que era finalmente aquela pela qual eu ansiava”, conforme referiu o próprio numa entrevista concedida a Alfredo Pinto (Sacavém) em 1913.
A estrutura e a forma do Quarteto são particularmente interessantes e peculiares. Freitas Branco criou uma obra de construção cíclica, uma lógica construtiva de inspiração frankista. Criou, ainda, uma obra em que os quatro andamentos têm durações muito díspares: os dois primeiros, Moderado e Vivo, duram cerca de três minutos; o Lento tem praticamente o dobro dos anteriores; e o último, Animado, dura o triplo dos dois primeiros. Esta discrepância temporal não prejudica, porém, o equilíbrio da obra.
Formalmente, o primeiro andamento contraria a canónica forma sonata. Ao invés, divide-se em duas secções – Moderato e Più animato – que primam pela concisão e presenteiam o ouvinte com um fabuloso jogo de contrastes (escrita paralela versus diálogos sucessivos). O Vivo tem a forma de um scherzo, mas surpreende pela ironia, pela “graciosidade deformada” que desprende, como refere João de Freitas Branco. A plasticidade sonora e o lirismo são a imagem de marca do Lento. Em 1990, Alexandre Delgado escreveu que o quarto e último andamento “reúne características de vários tipos de estrutura (rondó, sonata, variação) sem chegar a ser nenhuma delas e inventando uma forma nova”.
A primeira audição integral do Quarteto de cordasde Luís de Freitas Branco teve lugar em 1928, no Conservatório Nacional de Lisboa, pelo quarteto do violinista Luís Barbosa. Contudo, o terceiro andamento já havia sido interpretado publicamente onze anos antes, a 19 de Abril de 1917, no mesmo local, por um quarteto formado pelos violinistas Paulo e João Manso, o violetista Fernando Cabral e o violoncelista Júlio Almada.
Ana Maria Liberal, 2018