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Denisov foi vítima de um terrível – e quase fatal – acidente de viação no Verão de 1994, quando se dirigia para o primeiro ensaio da sua Sinfonia de Câmara n.º 2. A obra que hoje ouvimos está, portanto, rodeada de circunstâncias trágicas, marcando o início do período final da vida de Denisov, em que a sua saúde ficou cada vez mais frágil (acabaria por falecer dois anos depois). Apesar disso – e de forma quase miraculosa – continuou sempre a compor prolificamente, terminando ainda 12 novas obras depois desta.
A Sinfonia de Câmara n.º 2 é, aliás, uma obra cheia de energia e vitalidade. Começa de forma quase caótica, sugerindo uma espécie de tumulto que só aos poucos começa a serenar. Na verdade, a música nunca estabiliza completamente: os momentos de acalmia são logo interrompidos por algo mais agitado, e mesmo as passagens mais líricas conjugam-se sempre com um elemento de maior actividade. De resto, a escrita para os instrumentos é bastante virtuosística, destacando-se o papel proeminente da percussão (nomeadamente dos bongós).
A obra foi escrita para o Ensemble ASM, um ensemble de música contemporânea que o próprio Denisov criara, em 1990, no âmbito de uma nova Associação de Música Contemporânea. Essa nova organização procurava reavivar a antiga associação fundada por Nikolai Roslavets, em 1923, e depois banida no tempo de Estaline, a qual tivera um papel central nesses anos – da década de 1920 – geralmente considerados os mais livres e experimentais da música soviética.
Daniel Moreira, 2016