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1. Allegro marcato
2. Adagio
3. Presto – Andante tranquillo
Arthur Honegger, compositor de origem suíça – apesar de ter nascido no Havre no norte da França e de ter vivido grande parte da sua vida em França, manteve sempre a nacionalidade suíça –, foi aluno de Charles Widor e Vincent d’Indy no Conservatório de Paris, onde conheceu Darius Milhaud e Jaques Ibert. Pertenceu ao Grupo dos Seis, com F. Poulenc, D. Milhaud, G. Auric, L. Durey e G. Tailleferre. Contemporâneo de um significativo número de artistas, foi próximo de Picasso, Claudel, Cocteau, Satie, entre muitos outros. A sua obra, alargada e diversa, é difícil de catalogar, desenvolvendo-se entre as fronteiras da tonalidade e de um atonalismo livre, com recurso frequente a escritas politonais. A sua música revela uma particular atenção ao contexto do seu tempo, procurando dar expressão às transformações políticas, sociais e culturais da Europa de então. Neste contexto refira-se a sua obra mais famosa Pacific 231, peça sinfónica inspirada no ruído de uma locomotiva. Para além de uma significativa produção orquestral ou de câmara (escreveu 5 sinfonias, por exemplo), compôs ainda para a rádio, o cinema, o teatro, o bailado ou a ópera.
A Primeira Sinfonia foi composta entre Dezembro de 1929 e Maio de 1930. Resulta de uma encomenda para a celebração dos 50 anos da Orquestra Sinfónica de Boston. Foi estreada por esta orquestra em Fevereiro de 1931, sob a direcção de Serge Koussevitski.
Apesar de a construção da Sinfonia seguir o modelo clássico (há quem relembre Haydn), o primeiro andamento (Allegro marcato) está construído a partir de um único tema. Dele surgirão outras ideias e motivos, em grande parte originados pelos desenvolvimentos polifónicos. O ambiente inicial é cru e agreste, tanto na harmonia como na articulação, nos acentos ou no ritmo. O contraste interno, ao invés de usar duas ideias musicais distintas, define-se sobretudo pela sequência de secções de carácter contrastante. Assim, antes de regressar ao ambiente inicial, o andamento desenvolve uma secção de carácter mais plano e expressivo.
O segundo andamento (Adagio) tem uma construção próxima do lied. O ambiente é sereno e expressivo, com desenhos intervalares mais abertos e de recorte algo expressionista. As cordas vão conduzindo as operações, numa escrita de carácter polifónico. A mobilidade contrapontística das texturas orquestrais é em grande parte responsável pelo desenrolar das frases e dos movimentos e por alguma instabilidade tonal. No centro do andamento surge uma secção mais aberta e global, num impressivo tutti orquestral. No final regressa a polifonia serena e contida das cordas, com que se iniciara este andamento.
O terceiro andamento (Presto) recupera a clareza e energia do primeiro andamento. A pulsão rítmica do baixo, sempre marcando o movimento, é o suporte de uma escrita sincopada e precisa. O contraponto da secção seguinte acrescenta cor e movimento. Os sopros, nomeadamente os metais, vão fazendo regressar a vitalidade rítmica e o recorte harmónico da secção inicial. No entanto o andamento vai terminar inesperadamente, numa coda composta em andamento lento (andante tranquillo). A escrita expressiva e pacificadora, nas cordas e nas madeiras, como que apazigua todas as tensões.
Fernando C.Lapa, 2017