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A suite de O Parafuso provém de um longo bailado em três actos estreado em Leninegrado a 8 de Abril de 1931. O bailado conta a história de um brutamontes que é despedido por estar constantemente embriagado e decide, então, vingar-se dos antigos empregadores, convencendo um colega a sabotar a fábrica, ao colocar um parafuso muito grande numa das máquinas. À última hora, esse colega tem um assomo de consciência, arrepende-se, e denuncia todo o esquema, levando à prisão do malfeitor.
Apesar de a história do bailado se integrar perfeitamente na causa soviética, entrando até em eco com um julgamento de sabotadores industriais que tivera realmente lugar em 1930, a verdade é que a obra foi muito mal recebida pela imprensa, despertando grande controvérsia. Embora a temática fosse adequada, a sua realização foi considerada superficial e irreverente, em especial porque tanto as personagens “positivas” (proletárias) como as “negativas” (burguesas) eram vistas à mesma luz grotesca. Um crítico notava mesmo a “falta de preparação política do compositor para a criação de um espectáculo soviético”.
Quanto à suite propriamente dita, Chostakovitch organizou-a inicialmente em oito andamentos, mas reduziu-a depois a seis; substituiu também, nessa altura, em 1934, alguns dos títulos possivelmente polémicos (como O Burocrata) por títulos genéricos (como Polka).
Daniel Moreira, 2016