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1. Morte de Andrij
2. Morte de Ostap
3. Profecia e morte de Taras Bulba
Composta durante a Primeira Guerra Mundial, Taras Bulba (1918) pode ser considerada a primeira obra concertística da larga escala de Janáček. Peça de carácter nacionalista, revela a admiração pelo espírito indomável da vizinha Rússia que o compositor tanto admirava auspiciando, simultânea e metaforicamente, o afastamento da sombra sempre presente do Império Austro-Húngaro.
À semelhança de outras obras do compositor inspiradas em temas e autores russos, Taras Bulba baseou‐se na novela homónima de Nikolai Gogol de 1835, que Janáček estudara no contexto das actividades do Círculo Russo de Brno de cuja fundação havia sido responsável em 1897, após visitar a Rússia. A sangrenta história narra as batalhas de um líder Cossaco ucraniano do século XVII, de nome Taras Bulba, contra os opressores polacos, bem como a sua terrível morte e a dos seus dois filhos. O primeiro andamento relata a história de amor entre uma polaca e Andrij, filho mais novo do protagonista, sendo o conflito de emoções de Andrij retratado por passagens solísticas no corne inglês, no violino e oboé, sobre o acompanhamento de acordes no órgão. À cena amorosa, de grande lirismo musical, sucede uma batalha onde Andrij se junta ao inimigo lutando contra o seu próprio povo. Arrependido da sua traição, entrega-se à espada do seu pai que o condena à morte. No segundo andamento, Ostap, filho mais velho de Taras Bulba, ainda horrorizado pela morte do seu irmão, é capturado e levado para Varsóvia onde também ele deverá ser executado. Caberá ao pai, sob um disfarce, avançar por entre a multidão para reconfortar o seu filho antes da morte. Uma mazurka, dança típica polaca, antecede a agonia de Ostap, representada quase graficamente pelo clarinete. No decurso do terceiro andamento, também Taras Bulba é capturado nas margens do rio Dnieper. Pregado a uma árvore e queimado numa fogueira, o sacrifício do herói é acompanhado pela exultante dança polaca krakowiak. A secção final, de aspiração visionária, representada no órgão e nos sinos, acompanha a fuga e a bravura dos soldados russos sobreviventes e a profecia final de Taras Bulba que anuncia que “não há fogo ou tortura que se sobreponha à força dos Russos”.
Rosa Paula Rocha Pinto, 2013