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Xenakis escreveu Thalleïn (“germinar ou deitar rebentos” em grego antigo) para a London Sinfonietta em 1984, grupo que estreou a peça em Fevereiro desse ano sob a direcção de Elgar Howarth. É dedicada ao ensemble e ao seu director artístico Michael Vyner (à memória de quem Birtwistle escreveu Ritual Fragment e mais tarde Cortege). É escrita para a formação convencional de um ensemble de solistas virtuosos: quatro madeiras, três metais, piano, percussão e cinco cordas. No entanto, o virtuosismo é fora de comum, requerendo uma execução precisa, muito rápida e irregular de ritmos complexos, de glissandos e microtons – estes últimos ainda mais evidentes pelo facto de Xenakis proibir o uso de vibrato. A partitura exige igualmente o uso de diversas embocaduras ao clarinetista. Este virtuosismo tem também a característica de ser muito mais colectivo do que individual.
Thalleïn não requer um comentário detalhado: não tem um programa extra-musical e nenhum processo temático no sentido convencional; o seu “significado” reside puramente nos sons que se vão ouvir. Mas talvez algumas dicas possam servir de ajuda nesta audição de cerca de 17 minutos. O início envolve o ensemble completo, dominado pelas madeiras que navegam em redor de sons microtonais. Glissandos nos metais dão origem a um episódio de trocas entre as diferentes secções, que sobressaem de acordo com as dinâmicas em curso. As cordas permanecem silenciosas durante uma longa passagem iniciada pela trompa no registo agudo do piano; esta passagem desemboca numa outra com ritmos em uníssono nas madeiras, mas que logo se desfaz. Neste ponto, as cordas reaparecem, permanecendo em episódios de texturas quebradas, com acordes percutidos, escalas “voadoras”, e ainda mais acordes em staccato. Mais percussões dão início a uma passagem sem cordas com o carácter leve de um scherzo. A partir daqui emergem notas sonoras separadas por um quarto de tom nos metais, as quais devem produzir a sensação de uma pulsação, uma característica de muitas partituras de Xenakis. Seguem-se passagens dos metais e fagote com explosões das percussões. Finalmente, as madeiras e as cordas regressam deslizando ao longo de grandes glissandos até encontrarem um merecido descanso.
Anthony Burton, 2008
Tradução: Rui Pereira