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  • 1. Abendständchen (Serenata Nocturna)

    2. Vineta

    3. Darthulas Grabgesang (Canto Fúnebre de Dártula)

     

    Da obra de Johannes Brahms (1833-1897) emanam, por um lado, a consciência dos ecos do passado e, por outro lado, o apelo dos achados harmónicos e metafóricos do seu tempo. Na música coral a cappella que nos deixou, a herança da tradição polifónica – particularmente do Renascimento, idade da polifonia por excelência – é pedra basilar assumida. As Três Canções op. 42, escritas em 1859-1860 e publicadas apenas em 1868, são as primeiras obras seculares a cappella do compositor. A configuração do coro misto em seis partes (com contraltos e baixos divididos) abre portas a uma harmonia mais preenchida do que o tradicional modelo a quatro partes e confere especial interesse à escrita antifonal, em que vozes femininas e masculinas constituem dois grupos distintos que ora dialogam entre si, ora cantam em conjunto.

    Em Abendständchen (Serenata Nocturna), os versos de Clemens von Brentano são o ponto de partida para uma exploração da relação texto-música típica do lied romântico alemão, mas articulada de forma exímia com os preceitos texturais renascentistas, dentro de uma forma essencialmente estrófica. Os efeitos de pergunta e resposta entre vozes femininas e masculinas trazem a marca da tradição e captam imediatamente a atenção ao sublinhar a exortação inicial (“Ouve”), prosseguindo com uma textura imitativa consistente, rica e equilibrada em que as figurações musicais mais peculiares traduzem o sentido poético dos versos. Por exemplo, Brahms oferece-nos um movimento serenamente ondulado em tercinas para representar o murmúrio das fontes (e esse mesmo efeito reaparece na segunda estrofe a relevar uma imagem diferente, de súplica e doçura). O cuidado com o colorido harmónico, um dos traços fortes da escrita brahmsiana, confere especial sentido à imagem dos sons que se desvanecem (terceiro verso); no verso equivalente da estrofe seguinte, a música é modificada, mantendo a harmonia em modo menor para fazer jus ao cenário da noite invocado, mas Brahms doura o final de cada estrofe com uma sedutora cadência plagal repleta de luz (em “escutar” e “luz dos sons”).

    Na segunda canção, o poema de Wilhelm Müller (celebérrimo autor dos versos musicados por Schubert em A Bela Moleira e A Viagem de Inverno) transporta-nos para o imaginário das lendas medievais ao evocar Vineta, mítica cidade submersa no Mar Báltico. O ambiente é desde logo muito diverso da canção anterior, com uma escrita predominantemente homofónica e um balanço à maneira de barcarolle que dá o enquadramento marítimo à canção. Os pontos climácticos, bem como as modulações surpreendentes, reforçam o sentido de palavras particularmente expressivas como “wunderbare” (maravilhosa), e “goldne” (douradas). Na quarta estrofe, é de assinalar o extraordinário efeito musical dado pelo lento crescendo, desde um registo solene murmurado inicialmente com melodia não-acompanhada (sugerindo as profundezas do coração) em direcção a um registo aberto já com textura mais preenchida (iluminando a alusão ao amor). O resultado da passagem inteira é particularmente forte, como que um equivalente musical da expansão de ondas concêntricas na água.

    Os versos de Darthulas Grabgesang (Canto Fúnebre de Dártula) foram escritos por Johann Gottfried Herder a partir de um original em inglês atribuído a Ossiano (heterónimo usado pelo poeta escocês James MacPherson na narração de poemas épicos). A escrita é, também nesta canção, rica em efeitos de pergunta-resposta, e de uma contenção e rigor imitativo dignos dos melhores mestres da polifonia. A secção central evidencia o dramatismo da negação (“nunca mais voltará o teu sol”) antes de dar lugar a um contraste acentuado com a adopção de tonalidade maior e um registo mais agudo, reforçando a ideia do sol a despertar Dártula depois do longo sono. Na última estrofe, abandonado o devaneio, volta o ambiente lamentoso inicial (“Afasta-te, ó sol”).

     


    Pedro Almeida, 2016 

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