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O facto de Mozart ter sido um talento precoce absolutamente extraordinário fez com que viajasse imenso com os seus pais para dar concertos nas principais cidades europeias e que, desde muito cedo, tivesse uma grande necessidade de escrever música para agradar o seu público. Isso não lhe retirou nunca a qualidade e a originalidade, por razões que só o génio, ou a divindade, poderão explicar. Essas viagens, que começaram muito cedo, contribuíram em muito para a absorção de estilos musicais diferentes que Mozart sabia, depois, revestir com o seu cunho muito pessoal. Essa originalidade, revelada desde a primeira hora, tornou-se inquestionável quando atingiu a plena maturidade musical, o que no seu caso aconteceu ainda antes de completar a maioridade.
Mas, naquele tempo, essa era uma idade difícil. Mozart já não era um menino mas sim um jovem adulto. Ainda não tinha emprego e a vida afigurava-se muito menos promissora do que os seus pais julgaram. Já quase a fazer 20 anos, segue com a mãe para Paris na tentativa de obter um bom emprego. A estadia na capital decorreria da pior forma possível, terminando com a morte da mãe, mas Paris deixou a marca da sua influência no jovem. De entre as diversas obras geniais deste período, a que deve mais à cidade do Sena é a Sinfonia Concertante para violino, viola e orquestra e que está na origem do arranjo para sexteto que escutaremos neste programa. O seu estilo concertante com mais do que um solista, estilo esse que manifesta a herança do Barroco e do Concerto Grosso, mas que não se afasta das inovações da escrita sinfónica de Haydn e dos compositores da Escola de Mannheim, era extremamente popular em Paris. A Sinfonia Concertante foi escrita em 1779 e demonstra bem a eficácia de Mozart em alcançar efeitos sonoros extraordinários com um efectivo orquestral reduzido, bem como a libertar os solistas do tutti orquestral e a proporcionar-lhes um rico colorido. Dividida em três andamentos, o que corresponde mais à divisão dos concertos do que das sinfonias (estas divididas em quatro andamentos), esta obra foi muito inovadora para a época e mantém-se como uma das predilectas do grande público, que reage muito bem ao lirismo intenso do segundo andamento e ao brilhantismo do Presto final. A versão para sexteto de cordas data de 1808 e foi editada por Sigmund Steiner. Nesta transcrição, a divisão das partes entre os músicos não obedece à concepção de solistas versus tutti. Ainda assim, mantém o carácter brilhante e lírico do original.