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A intensa procura de uma linguagem própria e interior nunca permitiu que se confundisse a música de Henri Dutilleux com qualquer corrente estilística. Francês nascido em 1916, frequentou um Conservatório de Paris onde as linguagens modernas não eram ainda abordadas – estudou-as depois por conta própria –, e iniciou a carreira quando o Serialismo conquistava uma perigosa hegemonia. Ainda nos anos 40, destruiu a quase totalidade das suas obras, nas quais vislumbrava o reflexo intenso de Ravel. Mas nem por isso aderiu aos movimentos vanguardistas, permanecendo fiel apenas à procura da sua própria individualidade expressiva: não quis prosseguir o estereótipo francês que lhe precedeu, onde as harmonias densas deixavam em segundo plano o contraponto e onde eram privilegiadas as formas curtas; recusou-se, por outro lado, a esquecer a harmonia num tempo em que as correntes dominantes a subalternizavam para favorecer aplicações estritas de métodos compositivos puramente racionais. É a Sonata para piano de 1947 que coloca Dutilleux no mapa musical e marca a transição definitiva do seu estilo: a vontade de fugir às formas curtas, tipicamente francesas, e de escrever uma obra com um certo fôlego, usando uma linguagem musical densa. A transposição desse pensamento para o contexto sinfónico acaba por ser algo natural, por ser aquele que mais favorece o desenvolvimento de obras de grandes dimensões e narrativas complexas. E se o brilho das orquestrações encontra algumas raízes na música de Berlioz, poucas mais referências se podem traçar no contexto da música francesa, pouco dada à forma da sinfonia – na verdade, as sinfonias de Dutilleux estão bem distantes da tradição romântica em geral: o tratamento temático prende-se mais com a técnica da variação do que com a exploração de formas longas e pré-estabelecidas como a forma-sonata; a relação entre os andamentos é livre e estes não obedecem aos esquemas consagrados, com os previsíveis contrastes de carácter. A Sinfonia nº 1 foi a primeira grande obra de Dutilleux interpretada nos Estados Unidos, motivando a encomenda de uma segunda sinfonia para celebrar o 75º aniversário da Orquestra Sinfónica de Bóston.