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  • Desde a segunda metade do século XVIII que se generalizou a prática de dar a ouvir algumas das melodias e temas principais de uma ópera logo no decurso da respectiva Abertura, como que fazendo um resumo da música ainda por vir, introduzindo-nos à acção dramática e preparando-nos para o seu ambiente expressivo. Na abertura de Don Giovanni, por exemplo, Mozart apresenta alguns dos temas musicais da ópera e traça claramente a distinção entre os dois mundos – um cómico, outro trágico – que integram a acção.

    O mesmo acontece na Abertura de O Navio Fantasma, em que Wagner opõe claramente dois universos – um agitado e tempestuoso, o outro lírico e amoroso –, em estreita articulação com a acção dramática. Trata-se da história do “Holandês voador”, um capitão que, por ter invocado Satã, é condenado – para toda a eternidade – a percorrer os mares no seu Navio Fantasma. De sete em sete anos, porém, é-lhe permitido descer à terra, sabendo que a maldição terminará caso encontre uma mulher que lhe seja fiel. Numa dessas ocasiões, encontra Senta (através do seu pai, Daland), pedindo a sua mão em casamento e dela obtendo o juramento de eterna fidelidade. Contudo, Erik – o anterior pretendente de Senta – encara mal tais juramentos e tenta demovê-la. O Holandês aparece a meio duma conversa entre eles e convence-se, erradamente, de que foi já traído. Acreditando que a sua malfadada sina jamais o abandonará, parte repentinamente. Desesperada, Senta atira-se então do alto de uma falésia, unindo-se ao Holandês na morte e assim permitindo a sua libertação. Tal como noutra ópera mais tardia – Tristão e Isolda – também aqui o amor redime, mas só fora (para além) deste mundo.

    Assim, as partes mais agitadas e tempestuosas da música associam-se à trágica (e errante) sina do Holandês, e evocam ainda as tempestades marítimas a que está constantemente sujeito; já as partes mais líricas representam a figura apaziguante de Senta e a redenção do Holandês pelo Amor. Destacam-se, em particular, dois temas musicais, apresentados logo no início da obra: primeiro, uma melodia rítmica e impetuosa nas trompas (e fagotes), acompanhada por desenhos enérgicos, rápidos e instáveis nas cordas – é o chamado “tema do Holandês”; depois, uma melodia doce no corne inglês e no oboé (mais tarde também ouvida noutros instrumentos), acompanhada por sonoridades quentes e delicadas nos sopros – o chamado “tema da redenção”. Depois de uma secção central mais instável, os dois temas principais voltam no final da Abertura, mas com um claro predomínio do tema da redenção, agora transfigurado, com um carácter triunfal, representando a vitória dos amantes, reunidos na morte.

    A ópera foi composta entre 1839 e 1841, num período em que Wagner vivia em França. Na sua estreia, a 2 de Janeiro de 1843, em Dresden, foi bastante mal recebida. Só mais tarde seria reconhecida, ao ponto de se tornar a ópera mais antiga de Wagner que faz actualmente parte do cânone das salas de ópera (as três primeiras óperas, anteriores a O Navio Fantasma, são muito raramente tocadas).


    Daniel Moreira, 2015

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