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Entre as obras que Liadov nos deixou predominam as miniaturas para piano, mas também compôs algumas obras orquestrais; em ambos os casos a utilização de títulos de carácter programático está frequentemente associada a temas da sua Rússia natal. Desta forma, e também através da inspiração da música tradicional, Liadov partilha de algumas tendências dominantes da sua época, nomeadamente a valorização da cultura russa e das suas tradições orais e musicais. Demonstra, portanto, algumas afinidades com os compositores do chamado Grupo dos Cinco (Mili Balakirev, César Cui, Modest Mussorgski, Nikolai Rimski-Korsakoff e Alexander Borodin) e com a sua perspectiva nacionalista de composição. Liadov esteve também associado na década de 1880 ao círculo de Mitrofan Belyayev, um mecenas russo que protegeu e incentivou a edição e realização de concertos de música russa de cariz nacionalista. O percurso e obras de Liadov, no entanto, revelam em certos aspectos uma trajectória mais conservadora em relação aos seus colegas do Grupo dos Cinco, a que não seria alheio o facto de, na sequência de estudos formais de piano, violino e composição no Conservatório de S. Petersburgo, se ter tornado um pedagogo de renome nessa instituição.
Ironicamente, o seu nome acabou por se tornar mais conhecido por ter sido convidado pelo director dos Ballets russes, Sergei Diaghilev, a compor a música para o bailado O Pássaro de Fogo, e por não ter cumprido essa tarefa. O convite foi transferido para o jovem Igor Stravinski, a quem o sucesso desta obra, estreada em 1910, viria a lançar no caminho da fama. Embora a justeza desta história seja contestada por alguns estudiosos, acabou por marcar a reputação deste compositor, que foi frequentemente acusado de preguiça e insegurança pelos seus contemporâneos e alunos.
Baba-Yaga assume no seu subtítulo a ligação directa aos contos tradicionais: ‘Quadro musical a partir de um conto popular russo’. Nesta curtíssima obra (a sua duração total não chega aos 4 minutos), o carácter irascível da bruxa é transmitido por uma orquestração cuidada, com efeitos que sugerem alguns dos traços que lhe são associados: os ventos furiosos que a transportam, expressos através de motivos rápidos – quase glissandi – nas cordas, os ritmos reiterados e obsessivos, o realce dado a instrumentos de tessitura grave, o seu desaparecimento brusco, em pianissimo, no final.
Helena Marinho, 2016