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1. Non allegro
2. Andante con moto – Tempo di valse
3. Lento assai – Allegro vivace
A derradeira obra de Rachmaninoff foi escrita nos EUA, entre o Verão e o início do Outono de 1940 (três anos antes da morte do compositor), e dedicada a Eugene Ormandy e à orquestra que este maestro então dirigia, a Orquestra de Filadélfia. Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, Rachmaninoff, que vivia na Suíça, numa propriedade cercana ao Lago Lucerna, decidira abandonar a Europa e radicar-se nos EUA, país que conhecia muito bem mercê das várias viagens que havia realizado desde 1909.
No Verão de 1940, o compositor russo esteve bastante atarefado a preparar a sua próxima tournée de concertos pelo continente norte-americano, circunstância que não foi de todo impeditiva da criação de mais uma obra, desta vez sinfónica. Data de 21 de Agosto uma carta que escreve a Ormandy contando que acabava de terminar “uma nova obra sinfónica, que naturalmente te quero dar a ti, em primeiro lugar, e à tua orquestra. Chama-se Danças Fantásticas. Devo começar agora a orquestração.” O compositor pretendia designar os três andamentos que compunham a obra por Meio-dia, Crepúsculo e Meia-noite, mas acabou por mudar de ideias quanto a estes títulos e ao da própria obra, tendo as três Danças Sinfónicas recebido as seguintes designações: Non allegro; Andante con moto (Tempo di valse); e Lento assai – Allegro vivace.
Antes de dar a partitura ao dedicatário e à sua orquestra, Rachmaninoff tocou alguns excertos ao seu amigo, o coreógrafo Michel Fokine. A intenção do compositor era saber se Fokine gostava das Danças ao ponto de as coreografar, como havia feito em 1939 com a Rapsódia sobre um tema de Paganini que se converteria no bailado Paganini. Fokine ficou, de facto, entusiasmado, mas faleceu repentinamente em Agosto de 1942 fazendo gorar as intenções de Rachmaninoff.
A partitura das Danças Sinfónicas op. 45 pede uma orquestra formada por 2 flautas, piccolo, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarinete baixo, saxofone alto, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, harpa, piano, timbales, percussão (glockenspiel, xilofone, carrilhão, triângulo, pandeireta, tambor, pratos e tam-tam) e cordas.
O andamento inicial traz a grande novidade de incluir um extenso solo de saxofone, instrumento para o qual Rachmaninoff nunca antes havia escrito. É uma belíssima melodia, com um travo nostálgico a fazer lembrar o país natal do compositor, e com um forte carácter vocal, que nos remete para as linhas melódicas longas, emotivas e plásticas que Rachmaninoff criava na década de 1900. Foi concebida com a ajuda do famoso compositor da Broadway, Robert Russell Bennet. Na coda, Rachmaninoff cita o tema inicial da sua Primeira Sinfonia, uma obra que foi recebida de forma desastrosa quando estreou em São Petersburgo, em 1897, e que o compositor destruiu. A citação que surge na primeira das três danças era por isso, na altura, uma citação “privada”. Mas a Sinfonia foi reconstruída a partir de uma versão para dois pianos e de várias partes de orquestra que se conservaram, após o falecimento do compositor, e a citação ficou à vista de todos.
O Andante con moto é uma valsa em 6/8 que faz lembrar a famosa obra de Ravel, La Valse, muito por causa das combinações harmónicas e tímbricas utilizadas por Rachmaninoff. A valsa começa com três partidas em falso (uma sequência de acordes dissonantes nos metais interrompe o ritmo de valsa criado pelas cordas), a partir das quais um tema introduzido primeiro pelo corne inglês e oboé, e depois pelas cordas, nos remete para um ambiente de dança que se torna bizarro pelo contínuo aparecimento de elementos novos que quebram o ritmo de valsa.
A terceira e última Dança Sinfónica é abundante em citações: a primeira é a do tema do Dies irae, modificado ritmicamente e com diversas harmonizações; a segunda remete para o repertório litúrgico ortodoxo. Todavia, Rachmaninoff integra-as de forma brilhante obtendo como resultado um andamento poderoso, com um forte pendor emocional, onde o jogo de timbres tem um papel preponderante.
As Danças Sinfónicas op. 45 foram estreadas em Janeiro de 1941, em Filadélfia, pelos dedicatários da obra: a orquestra da cidade dirigida por Eugene Ormandy.
Ana Maria Liberal, 2018