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Compostas em 1949, em pleno Estado Novo, as Portugalesas seguem um modernismo moderado, aproximando-se do espírito folclorista. A obra é composta por cinco pequenos quadros sinfónicos, cada um deles incorporador de material melódico recolhido na tradição oral. Na terceira das cinco peças – Malpica I – o material base, é retirado do folclore da Beira Baixa, e tratado com notória influência francesa (muito popular entre os compositores portugueses de então, particularmente a partir do exemplo modernista fundamental de Luís de Freitas Branco). A melodia é revestida com harmonias paralelas baseadas na escala hexáfona, tão característica da maneira impressionista, dando progressivamente espaço a um tratamento contrapontístico que, a par de um adensamento da textura e do cromatismo, denunciam a natureza plural das influências do compositor (a própria tradição alemã não foi alheia a Cláudio Carneyro, que acabaria por fazer, mais tarde, experiências baseadas na técnica dodecafónica). As Portugalesas foram estreadas a 1 de Janeiro de 1955 pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, no Pavilhão dos Desportos (Pavilhão Carlos Lopes) em Lisboa. A dirigir a orquestra esteve um músico que, tal como o compositor, teve forte ligação com a música francesa da primeira metade do século XX: Pedro de Freitas Branco, que se notabilizara internacionalmente ao estrear obras de Ravel a convite do próprio em 1932, com Marguerite Long ao piano.
Pedro Almeida, 2015