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  • 1. Moderato

    2. Allegretto - Allegro

    3. Andante espressivo

    4. Vivace

    Prokofieff compôs a sua sinfonia em Dó sustenido menor, que seria a sua sétima e última sinfonia, em 1952, o ano anterior à sua morte. O clima político e pessoal no qual esta obra foi composta era de enorme constrição. A doutrina de Zhdanov, imposta em 1948, dividia o mundo político entre o “imperialismo” liderado pelos Estados Unidos e a “democracia” da União Soviética e condenava tudo o que pusesse em causa essa mesma ortodoxia. Em consequência desta doutrina, vários compositores, incluindo Prokofieff, Chostakovitch e Khatchaturian, foram acusados de formalismo – de pôr em causa princípios fundamentais da música erudita e de usarem de modo “errado” certas sonoridades como a dissonância – e convidados a escrever música mais próxima do povo, da “democracia”. Para além disso o compositor estava, devido a uma queda que dera em 1945, de saúde muito debilitada.

    Esta obra, cuja estreia foi o último concerto ao qual o compositor assistiu e que, postumamente, lhe valeu a atribuição do Prémio Lenine, tinha como objectivo poder ser tocada por orquestras de jovens e ser transmitida pela rádio a crianças.

    O primeiro andamento(Moderato) está escrito em forma-sonata com uma clareza que se aproxima formalmente à de Haydn. Aí se encontra, como é típico, uma exposição com dois temas contrastantes e um epílogo, seguido de um desenvolvimento e da reexposição. Para além disso, note-se como estes temas diferem, não só em carácter, mas, mais ainda, em proximidade e lonjura. Enquanto o primeiro tema cria um ambiente mais escuro, baço e pesado, o segundo distingue-se pela claridade e pelo desafogo: parece abraçar tudo, lembrando as longuíssimas melodias de Cinderella. O epílogo, de enorme delicadeza, com o glockenspiel em evidência, é como uma brincadeira: daquelas onde não se distingue mais a criança do adulto, mas se é simplesmente uma pessoa que se entretém, contente consigo mesmo. Atente-se porém ao final enganador, parecendo acabar bem.

    A valsa do segundo andamento (Allegretto) teria, se dançada, momentos difíceis, que são um maior prazer para quem pode, sentado, ficar a ouvi-la: Prokofieff vai-nos provocando, pois nunca deixa o ritmo do tema principal encaixar completamente no esquema da valsa e conseguimos ir, portanto, escorregando de uma valsa para a seguinte neste rodopio.

    Oterceiro andamento (Andante espressivo) proporciona um prazer de cores caleidoscópicas. Aqui encontramos dois temas que se vão alternando e vão sendo repetidos, sempre variados na instrumentação e, especialmente no final, em surpreendentes harmonias. Destaca-se a simplicidade dos meios usados, a beleza da cor dos vários instrumentos e das pequenas mudanças que vão surgindo. É música que vive da variação detalhada.

    O Finale (Vivace) tem a boa-disposição e leveza que conhecemos de Prokofieff em obras como Pedro e o Lobo:o gesto de galope logo a partir do início, as figuras rápidas, como lampejos de cor, a marcha que parece saída dum conto de criança… A revisitação da melodia longa do primeiro andamento acentua e abre este horizonte. Este último andamento tem dois finais possíveis: a repetição da intensidade do galope inicial ou, como havia inicialmente composto, uma conclusão mais tranquila. Prokofieff foi instado a compor um final mais enérgico, para ter uma maior probabilidade de ganhar a quantia de 100.000 rublos do Prémio Estaline. Estando a passar por necessidades económicas, devido à censura política que tinha sido imposta à sua música, Prokofieff concordou e juntou-lhe ainda a repetição do galope inicial para terminar. Mais tarde, no entanto, deixou claramente expresso o seu desejo no sentido de reverter a peça ao final originário: o epílogo do primeiro andamento é revisitado com o glockenspiel e, sem grande alarido, a sinfonia acaba em calma leveza, esfumando-se.


    António Sá-Dantas, 2016 

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